terça-feira, 14 de setembro de 2010

Vai ter volta!


Aqui se faz aqui se paga. agora vai, carrega sua cruz, faz dela seu escudo e sua arma contra as próximas ciladas que evitará, derramando mil possibilidades de doçura pelo chão. eu não vou te salvar, não vou te carregar, não vou te mostrar o que seus olhos não quiseram ver. parei com isso há algum tempo, porque eu re-al-men-te mereço mais. pela última vez: passou, morreu, morri também pra você. já me fui mil vezes, e sempre deixei evidente que você nunca veio na minha bagagem. sobrei em você como mais um motivo pra que deixe os risos passarem, abraçando aquele papel de vilão que tão bem te veste. e se for pra se fechar, melhor então nem ir, para o bem das desavisadas.

Hoje por acaso encontrei uma fotografia empoeirada nas suas coisas virtuais. foi você quem procurou, e também por isso só pude sentir pena. veja bem: deus não escreve certo nem errado, e as linhas podem ser retas tortas, o que só depende da escolha de cada um. se você faz questão de viver num mundo de equívocos deliberados, engole o dia seguinte e as infinitas ressacas morais e físicas das drogas que você faz e/ou consome. no fim das contas, ninguém se importa. é cada um por si e o tempo contra todos, levando o que a gente deixa de colher na hora certa – e sempre há a hora, o momento, aquele ínfimo respiro em que um olhar ou um toque é capaz de mudar cada existência.

Aahhhhh, a fugacidade dos instantes decisivos… se você não se atira quando há uma cama quentinha pra amortecer sua queda, o próximo salto muito provavelmente vai levá-lo a um tapete de cacos cortantes que você mesmo espalhou. conforme-se: o todo é feito de pequeninos pedaços, e qualquer história a dois é uma colcha de retalhos rasgadoscosturados por dois. o rock acabou, meu bem. nada pra sentir, dia após dia, ausência após ausência, finais de noite vazios um após o outro. pode ligar sua tv no jô sem esperar uma aparição pra te dar um mínimo de conforto ou aconchego. cerveja após cerveja, canção após canção, banho de mar após banho de mar, sempre lhe restará o espaço vazio que cabe àquela projeção que já não sou. o mundo não parou de girar por um segundo sequer desde seu primeiro não – nem desde meu desencanto.

Tem volta, sempre. olha pra esse espelho e aprende. ou continua se escondendo atrás da sua cruz de papelão. talvez sejá esse o karma que você faz questão de alimentar a cada levantar da cama nas suas manhãs – mas eu já não me importo, já não quero conhecer o alguém por trás dessa máscara suja. faz anos não quero suas mãos em mim. e por isso, dadas as circunstâncias, tenho que me repetir: sinto pena, só pena. mas esse leve pesar não me é um caminho pra te confortar num abraço e dizer que vai ficar tudo bem. não vai. não pra você. o caminho vai ser longo, e, ao que tudo indica, suas entregas sempre serão fora de hora e de contexto. pelo que você é, pelo que você deixa de construir, pela sua falta de bom senso.

Sabe que, nesses desencontros da vida – e justamente por causa deles, hoje sei – houve um tempo em que minha curiosidade em relação a você era uma paixão? é claro que você sabe. e sabe que, apesar de até pouco tempo atrás eu ter utilizado como estratégia de sobrevivência sentimental os tais “tampões de afeto” você nunca sequer chegou a ser cogitado como um? estranho, dada minha confessada e suicida carência. talvez sua amargura fosse um preço muito alto pra todas as merdas que já fiz, a maioria delas sem querer e sem pensar, e talvez ninguém mereça tamanha complicação ao longo de uma existência. e olha que um tempo atrás eu adorava problemas, era chegada em qualquer tormenta capaz de sacudir minhas estruturas. acho que, no seu caso, meu senso de auto preservação, que não é lá muito desenvolvido, falou mais alto no meu inconsciente. nem meu imundo coração merecia tanta bagunça.

Apesar de todos os seus pesares, que definitivamente não são meus, esse pequeno episódio me entristeceu. sem fazer o menor esforço posso visualizar perfeitamente o quadro de molduras podres em que você está estacionado – sim, eu já estive aí inúmeras vezes. desejo a você fé e paz e uma reviravolta nesse seu jeito quase que sombrio de ver o mundo das relações a dois. te desejo pulmões razoavelmente limpos, fígado em pleno funcionamento e nariz sem escoriações. te desejo tudo de bom e o alívio do esquecimento, enfim. porque mesmo após a maior das tempestades o mundo pode se fazer um bom lugar pra seguir.

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