terça-feira, 14 de setembro de 2010

Fazendo a linha Paris

O mínimo do homem dos sonhos: se arruma em quinze minutos, não entra em todas as lojas querendo comprar tudo, não é vegetariano, viaja só com uma mala, não tem ciúme até da própria sombra, tem orgasmos múltiplos e nunca nega sexo, não tem os pés gelados nem ciúmes até da própria sombra e não ronca nem arrota alto. enfim, não existe.

O homem erra quando numa noite de sexta-feira em são paulo ou em qualquer outra metrópole ele se entrega ao ritual de se montar. Para os desavisados, tal ritual consiste em, perto das dez da noite, abrir uma cerveja trincado ou servir uma dose de uísque com guaraná zero, colocar madge ou lady ga-ga-ga-gaga pra berrar no laptop e se perder entre jaquetas e maquiagens diversas. depois de alguns goles a trilha sonora fatalmente evolui pra she wants revenge. Porque, no caso específico de são paulo, as ladies bagaceiras estão em contagem regressiva pras red flags and long nights que a balada promete, e todos os trinta e dois pares de sapatos supreendentemente encontram-se largados pelo quarto/closet. Sim, isso é sempre um erro. se não, vejamos.

Que tipo de ser se dá ao trabalho de pintar a cara durante vinte, trinta minutos, sabendo que a produção mal vai durar até a porta do destino semi-final (a baladinha), e quem dirá até o implicitamente planejado final: alguma cama bem servida? qual pessoa com um mínimo de amor à própria coluna optaria voluntariamente por se equilibrar durante as próximas horas sobre um taco de cinco ou sete centímetros com os dedos espremidos num bico fino? o que leva alguém homossexual a se arrumar pra impressionar mais seres do mesmo sexo do que os machos supostamente alfa a serem catados por aí? até porque beesha phina que é bem phina des-pre-za esses tais ditos alfas grandalhões por bem saber que o alfabeto é vasto, que homem é cego pra delineador e que a cueca nunca é devidamente apreciada quando o último capítulo da noite é realmente bem aproveitado, o que costuma acontecer com gamas ou ômegas, em regra absolutamente desligados pra detalhes imperceptíves ao toque, ao olfato ou a um olhar menos intimista.


Não há justificativa racional pra produções que levam mais tempo pra serem executadas do que duram após finalizadas. Sorte dos não alfas, que pulam dentro de uma calça dois números menor, de uma camiseta de mil novecentos e noventa e kevin e deixam o cabelo como está desde segunda-feira pra, simples assim, terem garantidos os olhares de ao menos meia dúzia de donas glorinhas fogosas durante a noite. E sorte das gays que confiam em seu taco a ponto de saírem de casa depois da meia-noite sem salto nem quilos de base e pó (pó compacto, diga-se). Na verdade esses bofescandalos têm a vantagem de não se transfigurarem durante a noite, de não parecerem zumbis com olheiras do tamanho das bochechas após as três da manhã, de minimizarem o risco de uma eventual queda alcoólica, de poderem acordar em qualquer local e tomar um banho sem medo de matar alguém de susto ao terem como escudo apenas uma toalha. Já as antas, digo, antes montadas… Tá, têm lá seu charme decadente, mas ainda assim um crachá da irracionalidade feminina. vai entender…

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