quarta-feira, 31 de março de 2010

i told you i was a trouble boy, you know tah't im no good.


(assim, porque és morno, e não és frio nem quente,
vomitar-te-ei da minha boca. (apocalipse, capítulo 3,
versículo 16)



Era quase manhã e eu vim caminhando sozinho até minha casa, em passos arrastados pra aproveitar o restinho da noite fresca e clara de estrelas. logo na segunda quadra machuquei o dedão do pé num paralelepípedo solto. só vi o estrago quando sentei na varanda pra fumar o último cigarro: metade do meu chinelo tingida de vermelho. naquela hora não senti dor nem nada, tão longe meus pensamentos passeavam. talvez toda aquela vodca com limão, gelo e açúcar ao longo da noite veloz tenham ajudado a anestesiar aquele talho. não importa. o fato é que naquela sentada na varanda ao amanhecer eu não estava de fato lá – faltava-me algo pra estar inteiro.



Minha cabeça tem passeado por lugares que eu não faria muita questão de visitar em sã consciência, mas esse negócio de sanidade nunca foi meu forte. e mentalmente dobro repetidas vezes aquela velha esquina, mesmo com a certeza de que dali pra frente o único destino é descer aos tropeços ladeira abaixo, lá praquele lugar que tão bem conheço e onde ninguém quer estar – o vale das confusões doloridas. e sabe, até aquele momento esse era o lugar onde eu enganava minha fome de afeto com qualquer amor porco, raso. não importa o personagem, o lugar é sempre o mesmo: ali minha desesperada vontade de encontrar outra alma era destilada por algum pequeno sofrimento, por acontecimentos sem muita importância que me distraíssem de olhar pra mim mesma e redescobrir o que sempre esteve aqui.



Dia claro, deitei na cama gigante e tentei me aconchegar nos lençóis de algodão com cheiro de limpos. a cabeça lenta, mas incessantemente percebendo que algo havia me acontecido naquela noite. não, não houve beijo ou namorado. não houve velho amor revisitado nem novo amor encontrado. houve conversa aleatória, dancinha debochada e drinques até a hora de ir. cadê o garoto que saiu de casa às dez da noite de ontem? não consegui encontrar, não morava mais em mim. toda aquela tolerância – essa palavra tão feia que insiste em me perseguir –, toda aquela generosidade típica dos carentes, todos os sins a postos pra sair da minha boca, tudo o que me fazia uma homem-de-amor havia desaparecido. é meu lado b dando as caras, o eu que sou mais eu, aquele que não é das-melhores-pessoas-pra-se-aproximar-de e que carrega um crachá de “problema” agarrado no decote profundo.




Depois de três horas de não-sono me levanto pra comprar cervejas e abacaxis pro churrasco de papai. saio va-ga-ro-sa-men-te da garagem pra não dar pinta e sigo a menos de 80 até a saída da cidade pra pegar um vento com cheiro de mato. mal posso acreditar nesse meu novo ser-e-estar. novo não, saudoso. pode parecer egoísta ou romanticamente nulo, mas a sensação de ter o coração vaziamente tranqüilo, a mente sem expectativas e a alma descansando é indescritível. volto pra casa, converso monossilabicamente aos copos amarelos e como um tiquinho de picanha até me dar conta de que é bicho morto – vamos partir pra maionese de mamãe e pro abacaxi com canela, mas não muito pra manter o peso ótimo recém conquistado. sol rachando, piscina morna convidando, mas a cama é quem chama mais forte. só até anoitecer, porque aqui a noite é simplesmente divina – morna, lisa, vento com cheiro de cimento molhado. são paulo, afinal, tem seus encantos.



Me levanto depois das sete da noite. domingo, silêncio absoluto, quintal bem cuidado de papai e mamãe com muro vivo muito verde, chão de tijolos e piscina ainda morna. preguiça de mergulhar. sento sozinho na mesinha de plástico branco – todos estão jogando baralho, bem família. um cigarro, uma cerveja com a embalagem esbranquiçada, ipod de lista em lista. porque a lista do ipod que você escuta revela seu estado de espírito. e não há rock ou dor de cotovelo que aquiete quando a alma saltita serelepe dentro de você. hora de atualizar a biblioteca. não tem mais volta: aquela de menos de 24 horas atrás saiu deste corpo. sou outro, sou inteiro, sou muitíssimo homem, obrigado. e na lista de aleatórias vem aquela do one-two-three-four, uno-do'-tres-cuatro. putaqueopariumarisa! vontade de dançar sozinho, bem fernanda-bbb, ou entre letícia e bruna e grazi e leandro, ou para aquele cara que deixei dormir sozinho outro dia – hoje vejo – por estar desfalcado de mim, faltando o pedaço homem-pra-caralho que há pouco e meio sem querer recuperei.



Do lugar onde está meu coração posso dizer com toda a certeza do mundo: não vale ser metade à espera de, não vale perdoar ou relevar o imperdoável ou o irrelevável. é cada um por si e madonna por todos, até que apareça não metade, mas alguém que valha ser a segunda pessoa do seu par, alguém que compense todos os outros nãos pra todas as outras pessoas interessantes e interessadas que certamente virão. pouco é pouco, morno é morno, ponto. contentar-se com isso é desperdício. hoje novamente vejo (tá, comprei lentes novas com o grau de que necessito, tsc) que o mundo é muito grande e que não preciso ficar nesse lugar onde me enfiei por vontade ou mero equívoco. seja lá o que lhe falte, seja sexo, drogas ou rock, se falta é sinal de que você não encontrou seu lugar. e cedo ou tarde isso vai se tornar evidente. força na peruca e no salto sete! corra, rafis, corra! merecemos. seja quente ou seja frio; naõ seja morno que te vomito.



Voltei a pensar que o melhor som não é o de um sussuro, o de uma declaração sincera ou o de um gemido espontâneo. é o de uma latinha ou long neck de cerveja sendo aberta. proust! rumba! tá, não o mais prazeroso, mas o som mais fiel capaz de arrancar um sorriso em qualquer dia da semana ou hora do tal dia ou da noite. ninguém é indispensável, há felicidade e completude individual – embora invariavelmente temperada com um mínimo de egoísmo, frieza e desencanto. não faz muita diferença quando se chega a esse ponto: ao ponto de simplesmente não se importar, de fechar os olhos pra deliberadamente não ver, de não esperar por nada divino, de afastar qualquer possibilidade de amor até que ela se mostre digna de atenção.



Depois desse brainstorm não senti mais meu dedo do pé arrebentado, é o que menos deveria doer, afinal. já fez casquinha. enfim. não espero. não quero profundidade nem solidez. não agora. quer dizer, não que não queira – só não procuro. se vier, que seja arrebatador a ponto de me levar cego-surdo-e-burro. se não, certamente passarei bem. me encontrei depois de me esforçar até o último cantinho da alma pra ser amor, pra ser um sonho, um bem pra alguém. e, agora vejo, quase deixei passar o que seria de-li-ci-o-so pra mim, sozinho-avulso-single-ladies. já volto, amora, certamente muito mais terrível que na minha partida. que você possa com isso. aloka.


Mas micareta, jamais! hepatite, cárie e todo o resto. essa meta de mais de cinqüenta por noite é insana, vale no máximo por uma vida. como se eu fosse pó, você me cheira – tô fora! nem com ipod e camarote global grátis-free! tenho dito.

sábado, 27 de março de 2010

Rehab para o coração.


Já dizia o poeta: quem tem alma não tem calma. isso se torna cada vez mais verdadeiro na fluidez em que vivemos. as pessoas demoram 35 anos pra se casarem e menos de cinco pra descasarem. é o fast romance, modalidade de relacionamento preferida dos modernos. a justificativa para esse padrão de comportamento reside em buscar a felicidade ao máximo, ainda que numa seqüência de doses mínimas. não vejo probelma nisso – pelo contrário: nada melhor, nada mais humano que ter fome de gente. tem um pequeno porém: quem vive amores líquidos acaba perdendo uma das partes mais bonitas das ligações afetivas – as celebrações.
Hoje em dia não se comemora mais aniversário de namoro simplesmente porque ele não é lembrado. são tantos inícios que a data passa a ser mais uma qualquer no calendário. bodas, então, nem se fala, pois elas nem chegam a acontecer. não falo de uma comemoração cafona com setenta parentes distantes parabenizando por anos de tolerância, mas da lembrança de que duas pessoas construiram algo bonito e assim o mantiveram durante meses, anos. trata-se de celebrar o humano, a vida e a convivência – esta principalmente, por raramente perdurar em nossa modernidade pastosa.
Festejamos natais muitas vezes sem saber direito o porquê, e isso os fazem datas especiais. por que não celebrar datas que marcam algo realmente extraordinário na vida de cada um de nós? por que limitar-se aos nascimentos? com champanhe ou guaraná, vale a alegria de sentir-se capaz de afeto, de deixar-se afetar pelo outro. talvez seja esse o xis da questão: hoje em dia ninguém mais se deixa descobrir. é mais fácil ficar em começos, nas primeiras descobertas sem deixar que o lado imperfeito do outro se revele. pra que cobranças e carências se há outro corpinho disponível logo ali? pra que calma e compreensão num mundo em que a superficialidade se mostra tão atraente por sua leveza? muito mais cômodo consumir pessoas da mesma forma que consumimos tecnologia ou peças de vestuário da estação.
Cada um sabe de si, e há fases em que amores não cabem. há os períodos de resguardo, de rehab para o coração, mas há corações que simplesmte desaprenderam (ou nunca aprenderam) a se deixar bater por alguém. por esses eu lastimo. não por conservadorismo ou idealismos de um romantismo inadequado, mas por acreditar que ter alguém capaz de nos fazer reunir forças pra mover o mundo é um sentimento único, uma razão pra encarar cada dia com a bravura de um gladiador. na verdade, talvez até seja inadequado esse meu romantismo, mas por entender que não há maiores explicações sobre de onde viemos e pra onde vamos, algo pra preencher cada respiro com significado pode sim ser de maior valor que qualquer coisa. ridículo? sim, como toda carta e amor. mas afinal, ridículo é quem nunca escreveu uma carta de amor – provavelmente por nunca ter sentido essa sensação orgasmática que descrevem como “carregar borboletas no estômago”.
Contra a fluidez da modernidade não há remédio, nem desejo que haja. interações instantêaneas podem ser muito positivas e prazerosas. ao lado de toda a efemeridade torço para que perdure aquele pedacinho de passado em que as pessoas acreditavam em poderem ser felizes para sempre ao lado de um par eleito; desejo com toda minha alma não ser uma das poucas últimas românticas de todos os litorais; rezo para que os amores perfeitos e imperfeitos se perpetuem além de poesias e canções. sem medo de ser clichê, e sem dúvida o sendo, desejo que todos os corações se embriaguem ao menos uma vez dessa coisa cafona que chamam de paixão. assim sendo, estou certa de que todos entenderão minha old fashioned ode às bodas. porque de descartáveis já chegam embalagens e artigos de higiene…

sexta-feira, 26 de março de 2010

Será a suécia o paraiso?

A suécia é um país localizado na europa das noites sem fim, região também conhecida como vodka belt [a absolut é fabricada lá]. a população local é composta por 79% de idosos ricos do sexo masculino; dos 21% restantes, 82,5% são suecas loiras, altas, magrelas, peitudas, bem-educadas e dominadoras, na faixa etária entre 17 e 28 anos.


Econômica e socialmente, os suecos vão muito bem, obrigada. todos têm acesso à educação e à saúde. o índice de desemprego é mínimo, já que o mercado de trabalho no ramo de filmes adultos é amplo. no último ano, a balança comercial sueca fechou com superávit de 142 milhões de euros devido às exportações de cães geneticamente modificados e de loiras-delícia.

Os nórdicos têm uma cultura típica conhecida mundialmente. são os criadores da lap dance e expoentes máximos da luta de mulheres no chantilly, esporte praticado por 9 entre 10 suecas. quanto aos nativos célebres, destacam-se victoria silvstedt, ingmar bergman, greta garbo, ingrid bergman, abba, the cardigans, the hives, roxette e the hellacopters.
A religião predominante é o neo-hedonismo, já que os suecos não têm alma. talvez por isso ocorra o suicídio em massa de jovens no inverno, fenômeno denominado svår-emo. para erradicar esse mal, o governo sueco acaba de lançar um novo pacote de diversões, que inclui a construção e manutenção de saunas mistas em todas as cidades.
*a título de curiosidade, a suécia é também conhecida pelo nome de pasárgada, popularizado pelo poeta manuel bandeira.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Escondido embaixo do tapete.

Todo mundo sabe que o orkut é uma vitrine. logo, quem mantém uma página quer ser visto, sabido, acessado, sim senhor. mais que isso: quer ter sua imagem conhecida de uma maneira específica, já que ali é possível expor os atrativos e omitir o lado menos interessante do eu. delineia-se uma realidade virtual com base no que se considera bonito, descolado, enfim, digno de não ser escondido embaixo do tapete. já viu alguém dizer que ronca, tem mau hálito ou verme em seu perfil? obviamente não.

Calma, não estou escrevendo isso com um ar blasé de quem (faz de conta qu)e despreza orkut/fotolog/blog. assim como você que me lê agora, me dou ao desfrute ocasional dos prazeres vouyeurísiticos da net. digo tudo isso pra chegar o ponto que tem me deixado com um balão de interrogação flutuando sobre a cabeça há alguns dias: onde acaba a curiosidade e começa a perseguição virtual? que tipo de pessoa acessa todos os dias a página do orkut de outra com a qual não mantém contato algum? o acessado deve interpretar o fato como lisonja ou assédio?
O verdadeiro vasculhador, aquele que acompanha a vida das vítimas eleitas com mais afinco que aposentada noveleira, sabe que sua presença é percebida, mas jamais se manifesta. não manda recado, não se apresenta e, o pior de tudo, finge que não sabe que o perseguido existe no caso de um eventual encontro real. ora, se a pessoa busca informações sobre alguém constantemente, se tem manifesto interesse de qualquer natureza nesse alguém, o que a impede de mandar um oi-tudo-bem-tudo-bom quando uma oportunidade se apresenta? independente das respostas aos meus questionamentos inúteis, o fato é que [orkut]stalker tem um quê de loser - sentar-se na platéia e assistir passivamente à vida alheia acontecendo (quando se tem seu próprio palco não faz muito sentido.)

Sindrome da fração


O amor romântico, esse sonho de consumo que a cultura ocidental nos soca goela abaixo desde que chegamos ao mundo, traz mais tristeza que felicidade aos humanos que me cercam. as pobres criaturas têm a crença inabalável de que sua alegria está escondida no mesmo local não sabido que sua cara-metade, um ser predestinado a fazê-las felizes para sempre.
Acredito que um casal pode encontrar a felicidade no convívio, mas a alegria de cada um vem de sua auto-realização - da sensação de estar onde se quer estar e na companhia que se escolheu. não há certezas absolutas e imutáveis nesse departamento das relações humanas: o homem ou a mulher de nossas vidas é a pessoa que cada um de nós elegeu pra esse posto, e só vai permanecer ali enquanto quisermos e permitirmos, enquanto essa pessoa nos for um bem. sempre é tempo de mudar de idéia, de desamar, de notar que não era bem assim; sempre existe a possibilidade de uma das asas do par mudar de ritmo e desequilibrar o vôo.
Encaremos os fatos: não existe uma pessoa sob medida pra acabar com os ais de cada um de nós. a felicidade reside no eu, é pessoal e intransferível. há afinidades, há olhares pra uma mesma direção e há, sem dúvida, o amor. agora, metade-amputada-de-mim, só um eventual gêmeo siamês e o pedaço saudoso do chico.
Somos ímpares, não metades; o nós formado pelo "você e eu" é mera circunstância.

Charge

"Tenho uma leve tendência a rir de coisas bobas."







Dirão meus lábios


(A vida tem me cobrado que atuar é necessário,
eu poderia ter mil dons. Ser ator não é um deles.)
Só é meu
o pais que trago dentro da alma
entro nele sem passaporte
como em minha casa
ele vê a minha tristeza
e a minha solidão me acalanta.
Me cobre com uma pedra perfumada
dentro de mim florecem jardins,
minhas flores são inventadas,
as ruas me pertencem,
mas não áh casas nas ruas
as casas foram destruidas des de a minha (in)fância,
os seus abitantes vagueiam no espaço,
a procura de um lar.
Instalam-se em minha alma
eis por que sorrio
quando mal brilha o meu sol, eu choro.
Como a chuva leve desta noite,
dirão meus lábios a mesma coisa que trago no peito.
Houve tempo em que eu tive duas caras,
tempo em que as panteras não éram negras.
Hoje em dia, quando me bate a solidão,
procuro parceiros nos travesseiros,
atras do qual se estendem muralhas,
onde dormem trovões extintos e relampagos perdidos,
sonhamos se dormimos e sonhamos quando acordados.

quarta-feira, 24 de março de 2010

O menino que vê borboletas pela casa


Olha só, lucas, tô sabendo que sua relação com a matilde anda áspera, mas não tenho nada com isso. é coisa de vocês, e não sou ninguém pra julgar e muito menos pra condenar alguém. o modo como te vejo ou o que sinto por você não mudou. só me resta rir de tudo isso, que na verdade é nada, pelo menos no que diz respeito a mim. seu sonho, que também era meu - nosso café das 5 -, aconteceu e foi lindo. continuo te querendo muito bem, tudo inabalado em mim. aliás, pra mim você não tem que pedir desculpas. conversamos aqui e o que eu tinha pra te dizer, que era apenas minha opinião (não sou dono da verdade), te disse com todas as letras. sem estresse, sem mágoa, sem meias palavras. a gente não pensa igual em tudo, o que é perfeitamente natural. não podemos curar as feridas do mundo nem decidir pelos outros. enfim, quanto a mim, continua tudo igual apesar do passo em falso, se é que houve um.


Sinto pela sua treta com a matilde. se pudesse te aconselhar, te diria pra respirar fundo e atropelar tudo isso. acho que, a essa altura, não adianta nadica de nada você sofrer, se desgastar, falar, enfim, dispender energia no caso por um simples motivo: a paixão deixa a gente cega, surda e burra. eu, você, a matilde, o napoleão, a hebe, todo mundo. e não é ruim. tem que viver até a última gota, até acabar. e, se acaba, nem é sinal que não deu certo, mas que se esgotou, chegou ao fim. ponto. ferida sempre vem, mas é o preço. procurando bem, "todo mundo tem pereba"



Há três anos eu tinha um sonho. que sonho era esse? o sonho de te ver, de estar perto de você. não me culpo nem lamento pelo leite que só foi derramado na sua cabecinha excessivamente preocupada. sem drama, sem rancor, sem imaturidade. somos homems fodásticos e não alimentamos picuinhas. temos mais o que fazer do que remoer desentendimentos mínimos. isso é um esporro com a finalidade de tirar qualquer coisa ruim do seu peito e de te fazer levantar essa cabeça paulistana e ver o mundo colorido. eu queria poder te falar mil palavras olhando nos seus olhos pra te dar um pouco de paz, te sacudir e simplificar o que, na verdade, não tem que ser complicado.




Fica bem. e se controla. ou se descontrola. Faz de conta que tô te dando um abraço gigaaaaaaaaante e passando a mão nos seus cabelos perfeitos e rindo muito e te trazendo um café e tudo e tal.







rafa

Cômodos enormes


Entendo meu amigo*. na hora de fantasiar, é mais interessante com os ex que com os atuais. pra ele, com a mão em vai e vem; pra mim, com as mãos passeando pelo CAPS LOCK (que fique claro).


O raciocínio é lógico: pra que só imaginar situações de qualquer natureza quando dá pra concretizá-las simplesmente passando a mão no telefone? pra que só pensar numa pessoa durante uma sessão de sexo solitário se é possível tê-la com você [em cima, em baixo, ao lado ou de costas, nham!]? pra que escrever sobre os pés de uma pessoa se você pode passar horas olhando pra eles e, dependendo dos ânimos, fazendo uma massagem com hidratante de mousse de maracujá?


Pros ex, a gente reserva pensamentos e palavras escritas; pros atuais, o corpo, a alma e palavras sussurradas ao pé do ouvido.


O que muita gente não entende, e que eu e o senhor ali no msn compreendemos muito bem, é que passado fica no passado. pelo menos no plano real. dentro de nossas cabecinhas, todo devaneio é válido, inclusive em relação a arquivo morto. sim, porque quando um relacionamento acaba pra valer, os escombros da relação demolida - lembranças boas e ruins - são automaticamente movidos pra pasta "game over" do coração.



Oras, assim como meu amigo passou noites e mais noites em claro brincando com as sortudas londrinas peladas, eu dediquei anos da minha vida e cômodos enormes do meu castelo pros meus antigos amores. eu, ele, você, a madonna, a dercy, todos nós temos mais é que revisitar essas histórias de vez em quando. pretérito perfeito ou imperfeito, cada um tem o seu e vai ser por ele acompanhado enquanto respirar (ou até que uma improvável amnésia o delete).

Quando dizem; se cuida


A verdade que não quer calar: amor acaba. existe, sim, mas acaba. da mesma forma como surge - naturalmente - chega ao fim. sem cuidado, sem atenção, sem respeito, sem sexo de qualidade, enfim, sem a base de sustentação, a coisa desanda. menos doloroso quando é simultâneo, recíproco o desamor. mas e quando não? e quando um deixa de amar e o outro ainda centra boa parte de sua existência naquele? ah, aí começam as novelas das separações dolorosas.



Separação unilateral é, cá pra nós, abandono, em bom português. praticamente abandono de incapaz, em linguagem jurídica. é um grito de liberdade da parte que toma a iniciativa e uma violência das mais cruéis para o que é deixado. a (agora) pobre criatura, privada da presença do até então homem/mulher de sua vida, passa a se questionar de hora em hora: será que chupo uma gilete ou tomo pequenas doses diárias de candida? obviamente a escolha é, via de regra, uma terceira opção: muito álcool e sexo casual com pessoas aleatórias.



Fora o vazio que fica e preenche as infindáveis horas das semanas (ou meses) seguintes ao final (com o qual o abandonado teima em não se conformar), a pior parte desse tipo de separação é saber que o outro continua vivo, belo e formoso saltitando por aí, e completamente disponível. doem terrivelmente os encontros, casuais ou não, sem a possibilidade de contato físico, sem a antiga liberdade pra usar os apelidos antes carinhosos ou falar qualquer coisa sem importância com toda a naturalidade de quem tem vidas casadas - toda uma artificial falta de intimidade. e vem uma vontade incontrolável de dizer: eu te amo, volta! mas o amor pelo outro esbarra no amor próprio e acaba sufocado nalgum lugar entre o estômago, ainda agitado pelas borboletas, e o coração.



Normalmente, nessa fase, a pessoa que pôs fim à relação costuma ser muito gentil, educada, compadecida com o sofrimento do ser que atropelou. se pouco determinada, pode mesmo ceder ao apelo silencioso por carinho do outro e sofrer falsas recaídas (leia-se: sexo). havendo noites esparsas de flash back ou não, os reencontros são invariavelmente pontuados por aquela frase fatídica: "se cuida".


Convenhamos: "se cuida" é a morte. o apaixonado tende a criar falsas esperanças do tipo "ah, ele se preocupa comigo", mas não é por aí. o outro tá dizendo: se cuida, porque eu não vou mais cuidar de você. ou: seja feliz. entenda-se: seja feliz sem mim, dá seus pulos, porque eu tô muito bem, obrigado, sem você. duro, mas é esse o real sentido da coisa...

terça-feira, 23 de março de 2010

Cápsula protetora contra sensações mais intensas.


As pessoas têm o terrível costume de poupar a alma. pode notar: principalmente quem já se arrebentou num relacionamento mal sucedido (quase todo mundo?) vive num esforço constante pra construir paredes em volta de si. em vez de deixar uma paixão criar asas e levá-las pro fabuloso reino das endorfinas, viram homens-bolhas, acomodados numa cápsula protetora contra sensações mais intensas.
E como a bolha é confortável! sim, ela é absolutamente eficaz contra qualquer dor romântica - vem com uma fonte infinita de chá de sumiço para os casos de a distância de outro mortal ultrapassar a linha de segurança da frieza-educadinha.
O problema é que a cápsula-anti-feridas-no-peito não é indestrutível, e, quando colide com entidade semelhante, pode subitamente entrar em processo de fusão. nessas circunstâncias, o chazinho de sumiço se torna extremamente amargo, e sua ingestão ocasiona severos efeitos colaterais: dor dilascerante no peito seguida de vômito de borboletas mortas. o habitante da bolha, sovina sentimental assumido, sabe disso muito bem, mas, diante dos prazeres indescritíveis da paixão nova, geralmente acaba adiando a tomada do tal chá.
Tendo as bolhas virado uma só, contudo, elas têm curto período de sobrevida. progressivamente suas paredes vão desmoronando juntamente com a possibilidade de os poupadores de alma passarem bem sem ter um ao outro ao alcance da boca.
E aí... bom, aí a pessoa cai em si e se pergunta: economizar alma pra quê? de que vale carregar um coração estéril (leia-se centros produtores de drogas internas - endorfinas, dopaminas e afins - em baixa atividade)? uma linha reta de emoções, tudo o que se buscava até então, passa a parecer insossa diante da iminência de saborosas variações para o alto (acompanhada, sem dúvida, da possibilidade de baixos futuros.)
Tomados pela euforia de um presente açucarado, os ex-avulsos-convictos se vêem esbanjando o melhor de si, e assumem a renúncia, ao menos temporária, à estabilidade de ser homem-bolha.
Mas afinal, polpar alma (pra quê?) a vida, pra ser vivida! com a devida intensidade, requer certa prodigalidade sentimental.

Um certo homem e seu passado.

"Bendito seja todo o teu passado bissexual, porque ele te fez como tu és e te trouxe até mim."

Benditos seu pai e sua mãe, que ensinaram a você seu jeito de enxergar o mundo; bendita sua infância linda, que te tornou essa deliciosa criança grande; benditos seus amigos de infância, que te proporcionaram aqueles tempos de vidros quebrados; bendita a mulher que tanto te amou e que, ao partir seu coração, à custa de muito sofrimento te ensinou o que é amar; benditas as mulheres com quem você adquiriu suas habilidades de cama; bendito problema de joelho que te obrigou a nadar quilômetros e desenhou suas costas; benditas as tempestades que moldaram o seu humor; e as presepadas impublicáveis que você aprontou e a auto-confiança que isso te trouxe; benditos os tapas na cara que a vida te deu e que te ensinaram a conversar como gente grande; benditas todas as suas paixões; e todas as marcas e cicatrizes que você carrega no peito; bendita a doçura cafajeste com que encanta tantas mulheres; bendito o acaso que me apresentou a você do jeito errado e na hora errada. bendito seja você, que virou o improvável ao avesso.

Meus 18 anos de moço, that's not over!!!


Primeiro concluí o ensino médio. depois, comecei a engrossar as coxas com mais facilidade do que antes. quando me dei conta, passei a receber convites pra chás de panela das minhas amigas de infância - que eram, na verdade, pontos finais simbólicos às vidinhas desfrutáveis que elas levavam até então. agora, a coisa degringolou de vez: nas próximas férias em que voltar pra minha cidadezinha na capital paulista, o resto dos meus soldados de boteco estarão oficialmente perdidos. minha adolescência querida que os anos não trazem mais acabou e eu nem percebi.



Passaram-se dezoito anos desde que o mundo foi contemplado com minha morenice e, veja só, tenho a impressão de que mal comecei a crescer. o tempo voou e a tradição ocidental começa a se exibir diante de meus olhos: meus pares adquirindo fléts, assinando contrato com noras que escolheram pras senhoras suas mães e engordando a poupança pra educar as crincinhas catarrentas prestes a serem concebidas. as meninas encarnaram sem a menor vaidade, já não mostram a barriguinha não tão enxuta nem se preocupam com piastra ou depilação. nos meninos, a mudança é mais assustadora: estão em plena metamorfose rumo à forma tiozão-careca-barrigudo-bebedor-de-cerveja-com-os-amigos-do-futebol-de-sábado.




Mas calma aí! eu ainda sou muito jovem e não pretendo parar com a depilação enquanto tiver pêlos nem esconder minha (ainda plana) barriga. ademais, a vida sem baladinhas adolescentes ocasionais tende ao tédio. não que eu queira ser um ícone do anacronismo em meu círculo social de origem. até tenho um (nada) distinto senhor esforçado em me mostrar uma felicidade possível entre cama, mesa, banho e a até então sempre florida rotina dos casados e acredito que isso pode durar indefinidamente desde que dona amélia e tiozão-cintura-150 não se apossem de nossas vidas. só não vale chá de panela nem despedida de solteiro, que, bem sabemos, equivalem a um debute ao contrário, ou seja, o ocaso alegórico da vida social.






Mundo mundo vasto mundo... que eu tenha sempre essa lua e esse conhaque pra me botarem comovida como o diabo, porque me recuso a ter uma roda feminina de chimarrão como ápice da minha vida social. e agora, amigo? ora, nem tudo acabou, nem tudo fugiu, nem tudo mofou; ainda posso beber, ainda posso fumar, outros risos virão.

Arrasa com meu projeto de vida, bandida.

Não me diz pra parar. não me diz pra continuar. não me diz o que falar, o que eu sinto nem pra que não me veja em você. não me pede pra ter amor próprio. não pára de preencher meu vácuo emocional sem sequer se dar conta disso. não repara quando minhas palavras cessam e meus braços não me obedecem quando tudo o que eu mais quero é te abraçar. não liga se eu choro e fico com os dedos cada vez mais enrrugados. não me faz seu espinho, flor. mas não deixa de fazer cara de morte quando pensa que eu não sou todo seu. e não esquece que sou seu. não queira me entender - só me queira. não me deixe sem você. nunca.

você sai de perto, eu penso em homicídio, mas no fundo eu nem ligo.


Tão rápido como chegou, partiu. fogo-estrela cadente, piscar de olhos. sem marcas ou cicatrizes, sem lembranças ou esperanças. abraços frouxos, beijos ocos e palavras fajutas. é bom de vez em quando visitar o lado b das relações que nem chegam a ser relacionamentos: fast food pra saciar a fome, enganar a vontade e seguir mal nutrido.
Não adianta escrever, telefonar ou gritar. desculpa não é justificativa, e qualquer passo seu nesse sentido é perda de tempo e de energias. eu tenho um coração grande, gordo e derretido. eu sei perdoar e relevar, mas eu não quero. não agora, não você. vou fazer as coisas diferentes dessa vez. vou me preservar, me poupar, seguir adiante – não vou pagar pra ver. e por favor não escreve mais, não telefona outra vez, não grita de novo.
É claro que eu não queria que fosse assim. sempre prefiro o encontro ao desencontro, digo muito mais sins do que nãos e me deixo levar por sorrisos e canções. não, eu não tenho certeza de nada. só que dessa vez vou pegar o caminho da esquerda, aquele atalho, aquela descida. vou correr do seu amor porco, das suas meias verdades, de toda a sujeira travestida de carinho que você insiste em jogar no meu quintal. as suas xícaras sujas dos cafés da manhã ou da tarde não sou em quem vai lavar.
Agora não faz muito sentido saber que aí doeu, que não era nada daquilo ou que você vem pra me ver. eu não vou mais estar aqui. a casa vai estar vazia, a porta fechada e eu mergulhando num mar verde e quentinho há milhares de quilômetros daqui. engole suas frases feitas e aborta o plano das noites perfeitas. agora sou em quem te deixa com a mão estendida em espera. não preciso de bomba, de flit ou de qualquer outra arma branca. hoje pra você eu sou um não.

segunda-feira, 22 de março de 2010

House de criadores fashion MOB


Ontem, dia 21, aconteceu em São Paulo o evento FASHION MOB - evento que reuniu mais de 50 novos talentos da moda.
Eles sairam do Largo do Arouche e foram caminhando para o Parque da Luz. O evento foi suceso total! Fashionistas marcaram presença em peso. Muito humor, moda e estilo!!!

Ficou curioso pra ver o que rolou pelas ruas de São Paulo!!??

O na cama com rafis te mostra:




















A arte de tentar enganar


Você pode ter dezessete ou trinta e sete anos, não importa, se não sabe brincar melhor não descer pro playground. escutem esse conselho, amados amadores. estamos falando de traição, de pulada de cerca, daquela escapulidinha que poucos têm talento e sangue frio pra manter em off. a arte de enganar é para poucos. ao menos pra poucos homens, porque nunca vi mulher fazer serviço pela metade, digo.
Pode ser que chegue a hora em que você esteja feliz [ou não] com seu relacionamento e, apesar disso, se veja arrebatado por uma terceira pessoa. se você se permitir chegar a esse ponto, a cerquinha que protege você e seu amor de todas as filas invisíveis do mundo vai te parecer tão sólida quanto gelatina. sem que você queira ou mesmo se dê conta, seus conceitos vão se tornar mais elásticos, sua moral mais libertina, seus limites mais além. questão de tempo pra que olhares se tornem conversas ao telefone ou ao msn, pra que essas conversas se tornem encontros e pra que esses encontros se tornem sua própria cova, inocentemente cavada por ninguém menos que você. se não, vejamos.
Vamos focar esta análise nos homens, que são geralmente mais volúveis e mirins nesse departamento. antes de mais nada, vamos estabelecer o básico: independente da data na sua certidão de nascimento ser impressa ou datilografada, conforme-se: você é moleque. ponto. logo, logo, portanto, vai estar pedindo pra sair da enrascada em que se enfiou. começa tudo com gosto de brincadeira, você se deixando levar por hormônios e por essa verruguinha que carrega aí no meio das pernas [que você provavelmente chama por algum apelido ridículo e inexplicável]. é um misto de esconde-esconde e pega-pega, sob medida pra sua imaturidade emocional.
Acontece que a mistura de sexo, tesão e perigo tem efeito nefasto sobre o bom senso e, na falta deste, você fatalmente vai deixar rastros das suas escapadelas. vai sempre ter uma mensagem ou uma chamada no celular, vai sempre ter um log ou um e-mail no mac, sempre um atraso ou uma ausência pra te entregar. e você, ser sem muita criatividade, muito provavelmente vai pegar pra affair alguma moçoila com número pequeno de graus de separação da sua oficial, ou seja, sempre vai ter a amiga de uma amiga a par de tudo. mulheres competem, é claro, mas depois que aquela conhecida da amiga estiver satisfeita em ver o par de galhos crescido na fronte da sua namorada, esteja certo de que ela vai dar um jeito da sua cafajestagem chegar aos olhos e/ou ouvidos da sua pequena. e aí, meu bem, não sei se é pior [pra você, claro] ela te dar uma surra de tamanco salto sete ou fingir que não sabe. sim, fingir, porque particularmente as mulheres sempre acabam sabendo.
Repito: não sabe brincar, não desce pro play, porque se fizer mal feito, se der a mínima brecha, esteja certo de que é questão de tempo pra que um passarinho azul leve a notícia pro lado de lá. não vai ser fácil dormir sem saber se a ave da verdade já cantou e se a vingança feminina, sempre fatal, acontece [ou já aconteceu] diante de seu nariz sem que você nunca vá perceber. porque a tamancada na cara pode até não vir, mas um sutil tapa de luva sempre vem, garanto. e aí, amador? pensando em pedir pra sair? tudo isso é pouco pra você que se acha tão esperto e, no entanto, obviamente nada entende da alma feminina ou de jogos que não de tabuleiro, bola ou baralho.
Acredito seriamente na possibilidade de maquiavel ter sido nada menos que uma mulher com barba. nicolete maquiavel, guia espiritual onipresente nos corações sujos de todas as mulheres. eu disse TODAS as mulheres. portanto, nem tente se enganar com seu docinho com olhar meigo e fala macia. ou se engane e seja feliz, mas esteja certo de que quando você cogita a ida ela já voltou, tomou um banho e se enfeitou num sorriso pra manter você exatamente onde ela quer que você esteja.

tirou aquele sorriso bobo do rosto por um minuto.




Não desencanou depois de algumas noites de sono, até porque o sono não veio. não conseguiu não telefonar. não quis arriscar reticências passíveis de se tornarem o último ponto final daquela história. não pôde deixar a cabeça engolir o coração. não teve medo de enxergar o que todo mundo via. não teve preguiça de começar tudo de novo com mais um homem nem vontade de desistir desse homem por todas as outras disponíveis. não preferiu realizar um sonho com itinerário certo e ponto de chegada definido ao custo de sacrificar outro com rumos e caminhos desconhecidos. não respeitou aquela placa de pare que na verdade significava siga-em-frente-por-favor. não trocou a ponte hercílio luz pela tower bridge. não deixou que sua hesitação azedasse as coisas além do aceitável. não esperou a certeza que não brota do nada pra se mudar pra casa dela naquele dia mesmo. não teve que esperar muito pra que a certeza viesse. não demorou pra cair no ridículo do euteamo-eutambémteamo. não tirou aquele sorriso bobo do rosto por um minuto sequer desde. não sabe precisar o momento em que passou de solteiro/putão a quase-casado-muito-bem-amado. não vê explicação lógica pra esse descompasso num coração tão gasto, mas não quer outra coisa na vida. não, nada vai impedi-lo de viver cada segundo desse clichê com a devida intensidade.

Lá vien la rose


a vida espera um segundo e acontece no minuto seguinte.

No meio do caminho tinha uma rosa. e minhas retinas andavam re-al-men-te fatigadas, a respiração entrecortada por suspiros doloridos-doloridos. mas hoje eu ganhei uma rosa.

Depois de doze noites mal dormidas, de sete tentativas de fuga, de dezoito telefonemas infinitos, de três sessões de closer com sorvete-direto-no-pote e de cinco releituras das orelhas mais amélias (ou amélies) dos meus post no na cama comigo (risos), hoje eu ganhei uma rosa.

Hoje aquele que também bate no peito dos desafinados enfim se rendeu à vizinha da loucura, aquela senhora vermelha traficante de endorfinas. porque a vida é agora, e hoje eu ganhei um rosa.

don't you stop loving me, daddy


Eu preferia ter sido levantado do chão pelas duas orelhas como quando menina. preferia ter levado tapas de havaianas número 44 na bunda até ficar marcada. juro.
Atravessou minha alma com o olhar e disse com toda a seriedade do mundo que eu não sou nada, que eu não existo, que estou me matando aos poucos. falou que faço tudo errado, que não tenho objetivos concretos e que meus dias são um desperdício. que eu sou um desperdício - de inteligência, de beleza, de dinheiro, de dedicação.
Pela primeira vez em todos esses anos vi aqueles olhos verdes claríssimos, emoldurados por uma pele muito bronzeada em contraste com cabelos brancos, marejados. pela primeira vez disse que pensa em mim todos os dias e que me ama, na terceira pessoa - o pai te ama, meu filho. e pela primeira vez senti que eu existo, que sou alguém - que sou o mundo de outro alguém.

Clichê pós pé na bunda


Penso eu que as pessoas são muito parecidas em matéria de relacionamento. a reação a um pé-na-bunda levado de quem se ama, por exemplo, é o clichê dos clichês. se não, vejamos;


logo após o "i don't love you anymore. goodbye.", o deixado perde o rumo. desidrata de tanto chorar, tem a mais absoluta certeza de que o mundo acabou e de que NUNCA vai encontrar outro alguém tão maravilhoso quanto a pessoa que partiu (seu coração). são noites de sexta e sábado mofando em casa, sentimento de auto-piedade e perda total do amor próprio.


O manual da etiqueta dos descornados aconselha o sofredor a chorar sozinho e escondido entre travesseiros e edredons até passar a dor pra manter um mínimo de dignidade. entretanto, alguns amiguinhos burros insistem em ir atrás de seu alguém implorando por migalhas. bobagem. se a pessoa chegou ao ponto de tomar uma decisão assim, deve ter pensado bastante antes e não vai mudar de idéia por causa de um chôro - mesmo que sincero. pior que isso é amigo mal-educado: aquele que procura chamar a atenção de quem deu o pé através de violência, verbal ou não. esses acabam se afundando ainda mais, e merecidamente.


Esse período de tristeza profunda não tem duração determinada, mas acaba quando o apunhalado deixa de sentir pena de si mesmo e decide dançar com outros pares.


Seco o mar de lágrimas, começa a fase da putaria. muita sociabilidade, vida noturna intensa, porres (I)memoráveis e drogas em excesso, pra quem vê graça na coisa. nesse período, o abandonadinho fica mas fácil que puta de beira de estrada, já que nem cobra pra passar de cama em cama. é uma fase boa pra realizar fetiches, pra soltar um "eu quero fazer sexo com você(s)" praquelas pessoas que se deseja há tempos, enfim, pra sair completamente da casinha. tudo isso é uma forma inconsciente de recuperar a auto-estima, claro.


A fase deixem-me-ser-biscate! é extremamente prazerosa, e pode durar para todo o sempre - caso dos cafajestes incuráveis -, mas normalmente chega ao fim no momento em que o ex-sofredor percebe que o mundo tá cheio de gente interessante e especial, e que o grande amor perdido nem era tão grande assim. aí... bom, aí o coraçãozinho tá pronto pros sobressaltos de uma nova novela. É clichê ou não é, minha gente?

Não me afague, não se afogue.

michell


Estou indo embora. dessa vez, de vez. não me peça calma. não me peça pra ponderar. não me diga que me ama. não me afague, não se afogue.
A única coisa que me prendia a esse lugar era um homem, que não era você. ele partiu. partiu de mim, e o espaço que ocupava não serve pra você. e tem outra pessoa, interessada e interessante, na medida pro meu carnaval. tem também a mulher com pernas de dançarina, o vizinho bonito, o cara grisalho, o surfista evangélico, o gay afetado, o designer barbudo, e tantos outros corpos errantes que gritam silenciosamente pra eu não insistir nem resistir mais. não é certo com você e, sinto dizer, uma delícia pra mim.
Não adianta colocar maquiagem no que não tem remédio. eu não quero mais errar. não com você. não merecemos o morno, mas a mesa farta, a cama desfeita e a casa em festa.
Esmago seu coração e te liberto amigo.
Seja feliz e se cuida.

Chupa uma gilete

(eu)

Bate outra vez com esperanças o meu coração, pois já vai terminando o verão enfim.


(a bee no telephone)

ok, cartola. se joga põe rosa. e verde tbm! srrsrs


(eu)

ai, bee, tô querendo ser da mpb agora e vc só me avacalha. sério, agora eu quero ir num show do chico pra sentir a VIBE dele . UNO DOS TRES CATORCE! SE JOGA! como está esse corpo com extra falta de melanina?


(bee)

branquinho, tenro, pronto pro abate e tendo aula sobre união homoafetiva (?). e vc?


(eu)

salto sete e gorfando no banheiro do shooping. eu gosto é de bicha trabalhada.


(bee)

o sua porra loka esposa de dom joão número romano . já tomou sua dose de quiboa adoçada com vidro moído hoje?


(eu)

beecha preciso de outro líquido pra beber. quiboa já não faz mais efeito. acho que vou apelar pro jimo cupim com iscas pra formiga dissolvidas. o que vc acha?


(bee)

se joga. chupa uma gilete depois.


(eu)

já tentou o treco de seringa usada? eu tava pensando também em chupar uma naftalina.


(bee)

masca um refil de protector.


(eu)

protector? não sei o que é isso. vou ficar com as iscas mesmo.


(bee)

protector! aquele negócio de pôr na tomada pra matar mosquito! as pastilhas azuis são as melhores.


(eu)

aquele negócio verde? adorei! tá aprendendo, heim? mas acho que vou brincar de lança-perfume com sbp mesmo... mas lombarde, quais os prêmios de hoje?


(bee)

silviooo, hoje temos essa linda batedeira britânia no valor de 200 reaissss!


(eu)

meu, que vontade de comer um higiênico churro da velha ridícula.

(RISOS)


(bee)

deicha eu ir trabalhar rafis, bju queridu!


(eu)

até mais tarde gata, beijo na bochexa.

quem sou eu?

Exentrico de coração gelado, abominável homem das neves, dizem que lembro cazuza, digo talvez peter pan ou um icone presidiário; não sinto, não me comunico, não sei amar, não cresço, acredito na sininho e só penso putaria.

Cilios postiços


Cílios sempre foram, e sempre serão, o maior símbolo de sensualidade dos olhares femininos.Para as sortudas de plantão, um bom rímel importado e curvex dão conta do recado, mas para a maioria da nação, a vida não é tão simples assim, e é ai, que os tão desejados cílios postiços entram em ação.Grandes marcas do ramo como a japonesa Shu uemura, apostam alto nessa nova mania; Os “japas” criaram modelos de vários tipos e modelos, porém sua inovação foi além das plumas que estamos acostumados a ver no carnaval ou editorial de moda, e criaram cílios de renda.É isso mesmo, e se você acha que é exagero, separamos aqui vários tipos de cílios que, com certeza, vão fazer seus olhos virarem.





















































































vão-se os dedos ficam-se as lembranças

(a frase é sua.)

Eu encontrei e quis duvidar: tanto clichê deve não ser. entre tanta gente chata sem nenhuma graça, você veio. e eu que pensava que não ia me apaixonar nunca mais na vida.
Eu vi quando você me viu. seus olhos pousaram nos meus num arrepio sutil. foi só por um segundo, todo o tempo do mundo e o mundo todo se perdeu. e até quem me vê lendo jornal na fila do pão sabe que eu te encontrei.
Ao te conhecer dei pra sonhar, fiz tantos desvarios. eu, que te vejo e nem quase respiro. o contorno dos teus lábios pelos meus imaginares, frases tuas de insuportável beleza. na tua presença palavras são brutas. o meu coração é um músculo involuntário e ele pulsa por você. entre risos nervosos tenho os olhos meus sobre os sonhos teus.
Entre por essa porta agora e diga que me adora. você tem meia hora pra mudar a minha vida. vem, vambora, que o que você demora é o que o tempo leva. vem pra misturar juizo e carnaval, vem trair a solidão. vem pra se arrumar na minha confusão, vem querendo ser feliz. vem me trazer calor, fervor, fervura, me vestir do terno da ternura. sexo também é bom negócio: o melhor da vida é isso e ócio. carícias plenas, obscenas.
Apenas prometa-me amor discreto e agudo. me abraça, me aperta, me prende em tuas pernas, me prende, me força, me roda, me encanta, me enfeita num beijo. vamos viver agonizando uma paixão vadia, maravilhosa e transbordante, como uma hemorragia.
Se alguém tocar seu corpo como eu, não diga nada. já conheço os passos dessa estrada, sei que não vai dar em nada. se tudo correr bem, vamos nos odiar.
Chega. não me condene pelo seu penar. eu não pertenço ao mesmo lugar em que você se afunda tão raso, não dá nem pra tentar te salvar. é uma pena mas você não vale a pena. não vale uma fisgada dessa dor. não cabe como rima de um poema de tão pequeno.
Nossa relação acaba-se assim: como um caramelo que chega-se ao fim na boca vermelha de uma dama louca. deixe a porta aberta quando for saindo. você vai chorando e eu fico sorrindo.

sábado, 20 de março de 2010

até o fim do caminho



Há sete meses alguém parou de contar o tempo em latinhas de cerveja consumidas no sul do brasil, há duas semanas são paulo consome menos drogas ilegais por parte de um se deus habitantes, há dois meses um cara no hemisfério norte cortou álcool e cigarros, e há quase uma semana eu não durmo direito por mais de algumas poucas horas seguidas sem que qualquer entorpecente seja culpado por isso.
Você dita ao meu coração o que ele não quer aprender. já faz um tempinho eu tento em vão apagar da minha pele o seu cheiro e lavar da minha boca o seu gosto com álcoois variados. perfumes, destilados, fermentados, hidratantes e hirudoid pros meus hematomas – mas principalmente runs cubanos e norte-americanos pra embaralhar em mim o que se torna cada vez mais nítido. há dias todas as linhas não publicadas que escrevo são pra você, de e-mail pra e-mail ou mortas na caixa de rascunhos. no lines, no lies, droga, digo. ando perdendo o foco e a hora pra tudo. as voltas que os ponteiros dão parecem não resolver, não solucionar, não aliviar e os caminhos e portas que se exibem diante de meus olhos parecem sem graça nem encanto.
E foi logo com você, que desconhece meus mais óbvios pontos de partida, minha literatura e minhas canções. você que nada sabe sobre meu derramado coração e sobre minha incurável insaciedade. talvez isso seja bom, não sei. ou talvez seja engano meu, fantasia em rosa-pálido pra poder prosseguir com um pouco de doçura. e sou mestre em criar enredos encantadores pra dissimular faltas . meu deus, como eu pedi por algo que mexesse comigo a ponto de me fazer perder o pouco do juízo que me restava… e como fui atendido pronto e fatalmente! tudo errado, a mais perfeita a contramão.
Sabe quando tem gosto de faz-de-conta, de brincadeira, quando parece fora do alcance por qualquer motivo bobo? e sabe como isso é capaz de virar a cabeça de qualquer mortal? ou ao menos de qualquer romântico mortal? pode ser essa a explicação pra esse (des)encontro mínimo ter deixado tanto em mim. quem sabe seja esse o motivo de eu em vez de deixar estar, esperar; de em vez de abrir minhas asas e voar, não fazer planos até que. este não é o paraíso que projetei, não é o enredo com que sonhei, não é a maçã que imaginei não resistir um dia. mas, como diz uma amiga, pra mim se não envolver sofrimento não é bom. fato. sem curvas fechadas ou tempestades ao longo do caminho me parece faltar algo essencial.
Acaba de me ocorrer que há anos te vi de longe num quintal que não lembro direito e tive a absoluta certeza que um dia, quando chegasse a hora, me apaixonaria por você (lembrei isso porque você desenterrou um comentário meu sobre buracos na estrada nesses mesmos tempos remotos, coincidência estranha). essa certeza inexplicável não é exclusividade sua (sorry, haney), e nunca falhou. dito e feito. eu me conheço de mais, até mais do que gostaria. mas mesmo sabendo os rumos do meu coração, impossível evitar o inevitável. o jeito é seguir até que tudo se resolva num abraço definitivo ou num avião rumo ao esquecimento. só pra constar, não gosto muito de voar. prefiro seus braços. e costas. e boca. e pescoço. e seu sorriso indecente. e todo o resto de você.
Por hoje eu desisto de todo o resto. é nesse agora que pode haver um começo, não sei bem do que, mas um começo. é essa sensação que eu quero pra sempre, ao menos até que acabe: alecrim, hortelã e alfcaparra; chuvisco, terra molhada e grama recém cortada; mar, pôr-do-sol e brisa salgada; floresta fresca, úmida e perfumada; vontade de não ter fim, suspiros e paz. quero dançar com você até as pernas não poderem mais, quero segurar sua mão até o final do caminho e quero dormir em colher até que amanheçam todas as manhãs. eu quero viradas de ano à beira de qualquer mar, noites em agitadas cidades sem fim, férias em paraísos desconhecidos. e, a propósito, naquele sonho de verão eu estava sim ao seu lado. amanhã não sei, mas hoje eu quero tudo com você.
Vem ser minha maçã, meu sapo-príncipe, o artifício de todos os fogos até amanhã de manhã. inconstante? imediatista? sim, senhor. a vida é curta e o mundo é grande, e eu não quero mais ficar assim. só me acorda quando chegar e o banho e o café estiverem prontos, por favor.

na ponta da lingua




Pensaste que por já teres vivido tantos amores e desamores havias chegado ao ponto de controlar a situação. ledo engano… cada amor é único, e toda vez que um novo alguém despertar em ti uma revoada de borboletas naquele espaço entre o umbigo e o coração será como a primeira vez – sublime e assustador. nessa hora não importa quantos corações já partiste nem em quantos pedaços o teu já foi triturado. apaixonar-se é sempre começar do zero.


Depois de ter sido maduro e adulto nas minhas últimas relações-de-verdade, tudo me parecia claro e pré-resolvido. tinha na ponta da língua a palavra certa pra cada momento e o movimento exato pra cada situação clichê que me viesse nas próximas vezes. tudo isso até noutro dia quando te perguntaram um displicente “como vai?” e sentiste um impulso arrebatador em responder “amando! nas nuvens!” ou qualquer coisa parecida. contidamente disseste um “bem, obrigada”, mas com aquele leve sorriso de canto de boca indisfarçável dos que têm um novo amor. pra onde foram toda aquela segurança e frieza de homem bem resolvido das quais tenho a mais absoluta certeza? se dissolveram em calafrios, meu bem – eu bem sei.


Paixão chega sem aviso prévio, vem do improvável, transformada de outro sentimento ou mesmo de uma brincadeira. e vem forte, derrubando tudo, fazendo desmoronar certezas e resoluções – irresistível. não adianta correr, porque ela está la dentro, impregnada, fundida na minha carne que já não consegue descansar diante daquela inevitável presença vermelha que não sai de mim. tentarei dizer pra mim mesmo que não vale a pena, que é coisa pouca, que amanhã sara, mas no fundo sei que a partir de então o ponteiro da bússola da minha alma é unidirecional, que é pra esse norte que levam todos os meus caminhos.


Pode ser que eu esteje cansado e desiludido ou até que tenho acreditado por um tempo que já não há espaço pra amor em mim. talvez meu coração tenha passado um período de bater mudo, de bater fraco, tranqüilamente sem expectativas. mas quando ela vier – e é questão de tempo pra ela novamente chegar – não me engano nem perco tempo tentando negar o que não tem remédio: estou apaixonado outra vez. ainda que me afaste de quem me tira o prumo, a teia depois de iniciada cria vida própria, e me enredará tão suavemente que quando me der conta será impossível fugir. sonharei acordado e esperarei sempre por um encontro extraordinário que mudara minha vida para melhor. meus dias perderão o sentido até estar na presença de, e meu sorriso já não será o mesmo a menos que teu amor esteja perto.



Nunca vai ser igual, nunca vai ter resposta, nunca minha postura ou meu jeito de caminhar serão os mesmos. só a ansiedade com que espero o telefone ou a campainha tocar numa surpresa boa nunca mudam. beijos e abraços são sempre únicos, e os últimos são sempre incomparavelmente os melhores porque temperados com aquela pimentinha vermelha mágica. e são de mágica todos os momentos, cada pequeno acontecimento, cada encontro e cada olhar. é de mágica a paixão minha de cada dia, que pelo menos por enquanto é a mais perfeita expressão. a essa altura me obrigarei a admitir que não entendo e nunca entenderei nada dessas coisas do coração, que é mais fácil vivê-las sem pensar muito, que sempre vale apesar de qualquer pesar.



Mais uma vez quando me der conta, ainda que contra todos os meus projetos de vida, estarei amando loucamente. novamente meu mundo e minhas escolhas girarão em torno de. sem que tenha escolhido, meus planos sempre incluirão aquele alguém, aquele de quem quero tudo e espero nada, desde que perto. sonhos e amanhãs só me parecerão fazer sentido quando minha nova metade fizer parte deles. e mergulharei de cabeça numa história sem final escrito e me perderei nos caminhos de quem me desorienta e aceito o pouco ou o muito, não importa, que me oferecerem e terei felicidade nos mínimos não tão óbvios para os que não sofrem dessa febre vermelha pela qual fui acometido mais uma vez e da qual não tenho a menor vontade de me curar. de mágica até que se torne de lágrima.

sai desse corpo, menina!



il y a toujours quelque chose d'absent qui me tourmente.


Levanta dessa cama, vai. as coisas não podem ser tão ruins assim aí dentro e, se forem, escondê-las debaixo desse edredon não vai resolver. toma um banho, lava o rosto e a alma pra poder encarar o dia. assim, um de cada vez, sem medo do pra sempre. ontem eu encontrei uma blusa vermelha sua, que você não veste há anos. há tempos não te vejo enfeitando um decote profundo ou saltos finíssimos. há muito não te vejo gostando de si, gostando de ser. desde já não sei quando sinto falta de você.


É claro que tudo não vai se consertar num estalar de dedos, e que essa sua dor enorme não vai se curar com tylenol ou dipirona. a falta que te esmaga pode não ter fim, mas você precisa reaprender a respirar fundo e a olhar para os lados. não posso mais te ver caminhando reto rumo a sei lá o que, mesmo sabendo que esse caminho não te serve mais. e não posso te pegar pela mão e te mostrar as infinitas esquinas para outras direções a menos que você me a estenda. sinto falta de te ver chorar de rir e cantar num portunhol porco músicas do caetano e rodar e rodar até ficar tonta pra cair no sofá desnorteada e faceira. eu quero mais uma vez um sorriso nessa sua boca e brilho nesses seus olhos, mesmo que pra me enganar.


Entendo quando você diz que tudo parece torto e errado e morto. acredito que você se sente doente, fraca. mas tudo isso vem daí de dentro. essas febres são somatização desse mundo torto-e-errado-e-morto que você construiu onde insiste em se esconder. sim, essa dor é só sua. sim, só o tempo leva. e sim, ninguém pode viver isso por você. mas pra onde esse emaranhado de dor e tristeza pode te levar além do ponto em que você já chegou? mais que isso é o nada, é o fim, é a porta do hospício, honey. daí pra frente não é um túnel, é um buraco sem fundo que você mesma insiste em cavar. se permite um pouco de paz, deixa essas chuvas de verão lavarem toda a sujeira. esse estrago é irremediável, mas não é o último, você sabe, e talvez nem o mais cortante. deixa seu coração voltar a bater sereno e seus pés pisarem leves na cidade sem fim outra vez.



Sempre haverá alguma falta a te atomentar. sempre haverá os poréns, e sempre os quases pra te tirar o sono. dessa vez vai passar, cedo ou tarde vai passar, depende um pouco de você. mas certamente outras faltas virão, e outras pequenas ou grandes mortes, e outros irremediáveis e doloridos finais. é uma vida cadela que não controlamos e que a qualquer momento pode virar tudo ao avesso – para o bem ou para o mal. você só não pode se deixar assim, chumbada, acabada, jogada na sarjeta a espera de um caminhão pra atropelar sua miséria.



Me dá sua mão, vamos sair pra uma volta no quintal, que é seguro. depois partimos pra uma volta na quadra, pra uma caminhada até o parque e assim por diante até você sentir firmeza pra ganhar o mundo com o peito inflado de vida. te quero bem e te quero linda e te quero aprendendo a conviver com os percalços que sem dúvida virão. como disse caia, alguma coisa sempre faz falta. guarde sem dor, embora doa, e em segredo. seu sofrimento não precisa transbordar e inundar tudo à sua volta. essa dor não precisa se materializar em você. zipa e esconde ela numa sub-sub-sub-pasta do coração, num lugar que você tenha muita dificuldade de encontrar. é possível desviar desses cantos escuros da alma e prosseguir como se estivesse tudo bem – até o dia em que tudo de fato vai estar bem.