quarta-feira, 10 de março de 2010

Sonhos são sonhos


Eu estava em uma estação de esqui fantasiado de michelle obama: base escura no rosto, cabelo e vestido chanel negros. Bebia um vinho adocicado no gargalo e descia à toda velocidade a neve branca e lisa num snowboard cor-de-rosa. Ao pé do morro dei um abraço quentinho num primo querido já falecido. Eduardo tinha o cheiro de sempre – cheiro de verão – e o sorriso mais acolhedor do mundo. Seu cabelo fininho balançava ao vento dos alpes ou de bariloche, não sei, e tomamos um banho de tinta de todas as cores, como num trote de calouros espetacular, cinematográfico. Eu falei de quanto o amava e da falta que ele me faz, lembramos nossa adolescência e rimos muito. Saímos de mãos dadas na neve que já não era neve, mas um gramado muito verde infinito, e no lugar da mão de eduardo eu segurava a mão de vanessa.Vanessa sokoloski, assim, bem russa, foi minha melhor amiga durante alguns anos no ensino fundamental. Ela era muito alta e magra, pele morena, olhos absurdamente azuis contornados por cílios gigantes. O que eu mais adorava nela era sua risada, que era na verdade gargalhada, sempre. Ria com a boca muito aberta e o som de sua alegria debochada enchia qualquer cômodo. Há anos não a vejo. Vanessa segurava minha mão e gargalhava olhando nos meus olhos. Não disse nada. Só riu enquanto corríamos como crianças naquele gramado rumo à augusta. Sim, à rua augusta, são paulo.



A augusta, as usual, caótica naquela noite morna. Gente de todo tipo caminhando com garrafas na mão, muita fumaça e inferninho ao lado de inferninho de portas abertas aos passantes. Entrei sozinho no wonka, que na verdade fica em curitiba, não em são paulo. Encontrei minha garrafa de vinho dos alpes e também um desconhecido da alemanha: Cristian. Ele estava em sephia e absolutamente imóvel sorrindo com uma mão ajeitando o cabelo. Não tinha altura nem voz, mas cheguei bem perto pra conferir se não era um cartaz em tamanho real, e não – era o próprio cris, com brilho nos olhos e roupas de tecido molinho. Abracei-o como quem reencontra um amigo há muito distante, mas não me abraçou de volta. Sequer se moveu, como que preso em uma fotografia antiga.


O tal wonka é muito colorido, meio wonka factory mesmo, mas subitamente uma luz muito forte tingiu tudo de branco. Agora eu estava numa exposição fotográfica em qualquer lugar da argentina. Fatal era o nome da exposição. Percebi que vestia um sobretudo preto apenas. Outro desconhecido veio em minha direção e substituiu minha garrafa de vinho por uma taça pela metade. Era pablo, um fotógrafo de são paulo. tinha rugas ao redor dos olhos e barba de três dias. A iluminação indireta do local fazia os olhos dele faiscarem. Me parabenizou pelo meu aniversário e, já na casa dele, também toda branca, me mostrou o telefone branco de onde tinha me ligado no meu aniversário de 2005. Diferente daquela vez, agora nos entendíamos perfeitamente em nosso portuñol. Eu disse que aquele telefonema foi a coisa mais delicada e surpreendente de toda a minha vida e senti um clima de bocas se atraindo, quando pablo perguntou se eu poderia me juntar às outras bonecas de cera brancas no canto da sala. Olhei pra trás e a sala era copacabana.


Na copacabana deserta, uma escada em espiral rumo aos céus. Achei melhor não subir. Me atirei no mar e nadei, nadei, nadei. Na outra margem karen me pegou pela mão, me embrulhou na minha toalha da mônica de capuz e me serviu vários pedaços de nega maluca com extra cobertura de brigadeiro.

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