quarta-feira, 24 de março de 2010

Quando dizem; se cuida


A verdade que não quer calar: amor acaba. existe, sim, mas acaba. da mesma forma como surge - naturalmente - chega ao fim. sem cuidado, sem atenção, sem respeito, sem sexo de qualidade, enfim, sem a base de sustentação, a coisa desanda. menos doloroso quando é simultâneo, recíproco o desamor. mas e quando não? e quando um deixa de amar e o outro ainda centra boa parte de sua existência naquele? ah, aí começam as novelas das separações dolorosas.



Separação unilateral é, cá pra nós, abandono, em bom português. praticamente abandono de incapaz, em linguagem jurídica. é um grito de liberdade da parte que toma a iniciativa e uma violência das mais cruéis para o que é deixado. a (agora) pobre criatura, privada da presença do até então homem/mulher de sua vida, passa a se questionar de hora em hora: será que chupo uma gilete ou tomo pequenas doses diárias de candida? obviamente a escolha é, via de regra, uma terceira opção: muito álcool e sexo casual com pessoas aleatórias.



Fora o vazio que fica e preenche as infindáveis horas das semanas (ou meses) seguintes ao final (com o qual o abandonado teima em não se conformar), a pior parte desse tipo de separação é saber que o outro continua vivo, belo e formoso saltitando por aí, e completamente disponível. doem terrivelmente os encontros, casuais ou não, sem a possibilidade de contato físico, sem a antiga liberdade pra usar os apelidos antes carinhosos ou falar qualquer coisa sem importância com toda a naturalidade de quem tem vidas casadas - toda uma artificial falta de intimidade. e vem uma vontade incontrolável de dizer: eu te amo, volta! mas o amor pelo outro esbarra no amor próprio e acaba sufocado nalgum lugar entre o estômago, ainda agitado pelas borboletas, e o coração.



Normalmente, nessa fase, a pessoa que pôs fim à relação costuma ser muito gentil, educada, compadecida com o sofrimento do ser que atropelou. se pouco determinada, pode mesmo ceder ao apelo silencioso por carinho do outro e sofrer falsas recaídas (leia-se: sexo). havendo noites esparsas de flash back ou não, os reencontros são invariavelmente pontuados por aquela frase fatídica: "se cuida".


Convenhamos: "se cuida" é a morte. o apaixonado tende a criar falsas esperanças do tipo "ah, ele se preocupa comigo", mas não é por aí. o outro tá dizendo: se cuida, porque eu não vou mais cuidar de você. ou: seja feliz. entenda-se: seja feliz sem mim, dá seus pulos, porque eu tô muito bem, obrigado, sem você. duro, mas é esse o real sentido da coisa...

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