quarta-feira, 10 de março de 2010

Nem boa nem má, a vida é irôca.


A vida é sim bandida, e volta e meia nos dá rasteiras de quebrar as pernas. mas a vida é também doce, e quando menos esperamos nos dá como que um tapinha nas costas dizendo: “tá vendo, bobo? não é tão ruim assim”. tomemos eu como exemplo. recentemente terminei sem querer um relacionamento que teve momentos divinos. o bofe era meio metro, mais baixo que eu, e tinha tártaro (pronto, falei), mas eu era feliz com meu cascãozinho. era engraçadinho, o little mexican. enfim, depois do tombo sacodi a poeira e comecei a tramar meus planos mirabolantes de sexoamoreromance. mas é aquela história: quanto mais se vive, mais exigente se fica, e os quesitos mínimos para uma pessoa valer uma noite ou uma vida tendem cada vez mais ao máximo.



Além de todos os quesitos sine qua non já estabelecidos, acrescentei novos itens à lista. veja que com o tempo a gente também aprende a ser metódico, porque é mais fácil organizar o futuro quando se tem um inventário do passado. dentre as várias novas baboseiras que eu desejo num homem estão estatura superior a um metro e oitenta e voz de homem com agá grande, daquelas que enchem o cômodo. sei lá. quero outra vez sentir um abraço inteiro, completo, desses que só as pessoas maiores que a gente são capazes. e quero arrepiar ao som de uma voz não só quando sussurrada. nem preciso dizer que só vão me aparecer nanicos com voz de janete… digo.



Estava eu hoje à noitinha à espera de um táxi, rezando pra ser o silas simplesmente meu condutor, quem sem muito rodeio eu convidaria pra relaxar na januzzi. claro que na verdade eu já tinha a mais absoluta certeza que seria algum tio curitibano mal humorado ou, no máximo, um paulistano que acha curitiba o paraíso. quando a gente senta no banco de trás só consegue ver a pessoa pelo retrovisor em certas posições, e eu entrei sem olhar bem para o taxi driver. Eis que ele Diz: “boa noite”. se eu fosse o nino, teria levantado as orelhas na hora. que voz era aquela, maísa? e o cara era tão alto que tive que fazer o maior contorcionismo pra, sem sucesso, tentar examinar o material. Sim, eu sou um ímã de presepada.



papo vai, papo vem, ele não tem sotaque curitibano nem é capiau. comentou meio dançandinho que toda madrugada toca lady gaga e falou sobre a inconstitucionalidade de certas leis [?]. além de um senso de humor meio chandler bing o cara tinha conteúdo, minha gente. taxista cult, como os de buenos aires. tenho certeza que se houvesse tempo logo comentaria algum poema do drummond. e a risada era sempre gargalhada, deliciosa. Lá pelas tantas falou que antes do táxi tinha uma dupla sertaneja e que participou do fama. bom, ninguém é perfeito. depois, falou alguma coisa sobre a filha pequena e sobre a mulher. eu já tava vendo que era muita chuva na minha hortinha… pensei: é feio. Só pode. Tem dente torto e um barrigão. Não é possível que essa criatura, ca-sa-do e interessantíssimo seja bonito. seria muita ironia.



ao final da longa corrida em hora de rush pedi pra que ele me ajudasse com uma mala. eis que desce a criatura. pra mim foi em câmera lenta, como naqueles filmes açucarados. alto, seco e belo, com aquela barba de três dias que acaba com qualquer pessoa. Vestia uma camiseta preta surrada como a do seu madruga e nem usava sapatênis. wtf? como assim? e o sorriso branquinho? ahhhhhhhhhhh! obviamente um cara desse naipe não estaria disponível até seus quase quarenta anos. até pensei em esquecer meu telefone no carro, mas meus malditos escrúpulos me impediram de tentar destruir um lar.



nem boa nem má: a vida é irônica. morde e assopra, beija e cospe. mas eu me divirto com esses presentinhos que ela me dá. desses pequenos momentos se faz a felicidade, afinal.
Grato rafis.

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