sábado, 20 de março de 2010

na ponta da lingua




Pensaste que por já teres vivido tantos amores e desamores havias chegado ao ponto de controlar a situação. ledo engano… cada amor é único, e toda vez que um novo alguém despertar em ti uma revoada de borboletas naquele espaço entre o umbigo e o coração será como a primeira vez – sublime e assustador. nessa hora não importa quantos corações já partiste nem em quantos pedaços o teu já foi triturado. apaixonar-se é sempre começar do zero.


Depois de ter sido maduro e adulto nas minhas últimas relações-de-verdade, tudo me parecia claro e pré-resolvido. tinha na ponta da língua a palavra certa pra cada momento e o movimento exato pra cada situação clichê que me viesse nas próximas vezes. tudo isso até noutro dia quando te perguntaram um displicente “como vai?” e sentiste um impulso arrebatador em responder “amando! nas nuvens!” ou qualquer coisa parecida. contidamente disseste um “bem, obrigada”, mas com aquele leve sorriso de canto de boca indisfarçável dos que têm um novo amor. pra onde foram toda aquela segurança e frieza de homem bem resolvido das quais tenho a mais absoluta certeza? se dissolveram em calafrios, meu bem – eu bem sei.


Paixão chega sem aviso prévio, vem do improvável, transformada de outro sentimento ou mesmo de uma brincadeira. e vem forte, derrubando tudo, fazendo desmoronar certezas e resoluções – irresistível. não adianta correr, porque ela está la dentro, impregnada, fundida na minha carne que já não consegue descansar diante daquela inevitável presença vermelha que não sai de mim. tentarei dizer pra mim mesmo que não vale a pena, que é coisa pouca, que amanhã sara, mas no fundo sei que a partir de então o ponteiro da bússola da minha alma é unidirecional, que é pra esse norte que levam todos os meus caminhos.


Pode ser que eu esteje cansado e desiludido ou até que tenho acreditado por um tempo que já não há espaço pra amor em mim. talvez meu coração tenha passado um período de bater mudo, de bater fraco, tranqüilamente sem expectativas. mas quando ela vier – e é questão de tempo pra ela novamente chegar – não me engano nem perco tempo tentando negar o que não tem remédio: estou apaixonado outra vez. ainda que me afaste de quem me tira o prumo, a teia depois de iniciada cria vida própria, e me enredará tão suavemente que quando me der conta será impossível fugir. sonharei acordado e esperarei sempre por um encontro extraordinário que mudara minha vida para melhor. meus dias perderão o sentido até estar na presença de, e meu sorriso já não será o mesmo a menos que teu amor esteja perto.



Nunca vai ser igual, nunca vai ter resposta, nunca minha postura ou meu jeito de caminhar serão os mesmos. só a ansiedade com que espero o telefone ou a campainha tocar numa surpresa boa nunca mudam. beijos e abraços são sempre únicos, e os últimos são sempre incomparavelmente os melhores porque temperados com aquela pimentinha vermelha mágica. e são de mágica todos os momentos, cada pequeno acontecimento, cada encontro e cada olhar. é de mágica a paixão minha de cada dia, que pelo menos por enquanto é a mais perfeita expressão. a essa altura me obrigarei a admitir que não entendo e nunca entenderei nada dessas coisas do coração, que é mais fácil vivê-las sem pensar muito, que sempre vale apesar de qualquer pesar.



Mais uma vez quando me der conta, ainda que contra todos os meus projetos de vida, estarei amando loucamente. novamente meu mundo e minhas escolhas girarão em torno de. sem que tenha escolhido, meus planos sempre incluirão aquele alguém, aquele de quem quero tudo e espero nada, desde que perto. sonhos e amanhãs só me parecerão fazer sentido quando minha nova metade fizer parte deles. e mergulharei de cabeça numa história sem final escrito e me perderei nos caminhos de quem me desorienta e aceito o pouco ou o muito, não importa, que me oferecerem e terei felicidade nos mínimos não tão óbvios para os que não sofrem dessa febre vermelha pela qual fui acometido mais uma vez e da qual não tenho a menor vontade de me curar. de mágica até que se torne de lágrima.

0 comentários: