sábado, 13 de março de 2010

Game Over


O mundo se acaba aos poucos em dilúvios e terremotos, do lado de fora e do lado de dentro. por que os dias tristes são sempre chuvosos? talvez pelo cinza: essa é a cor do luto das pequenas mortes. nem preto, nem branco – qualquer coisa no meio, meio sem graça, meio sem significado. nem sim nem não; só o áspero do fim. porta fechada, rua sem saída, precipício.
A exceção é quando dá certo, quando o amor não vacila. no labirinto das relações humanas, quase todos os caminhos levam ao abismo do desentendimento. mais uma vez fui tragado pelo poço da regra. não éramos tão especiais assim, meu bem, concluo amargamente. pecamos pela falta de diálogo, e agora o silêncio é o que nos resta. retifico: pecaste pela falta de diálogo. até hoje não entendi muito bem o que deixei faltar, ou no que me excedi. a essa altura, não interessa apontar as culpas nem inventariar os erros. Mas a liga de confiança e entrega que um dia nos uniu. sobramos cacos.
A cada manhã acordo acreditando menos nas pessoas. pouco a pouco me convenço de que o mundo (que, de fato, é um moinho) é muito superficial pra mim e de que esse tal de amor é uma grande mentira mesmo. tudo gira em torno de vaidade, de umbigos, egoísmos deslavados. sei não, mas não acho que as coisas se ajeitem tão fácil. nem pra mim, nem pra você, nem pra ninguém.
lá vou eu mais uma vez engolir o sapo, assar o pato, calçar o sapato e sair correndo pra fugir de mim. lá vou eu de novo esperar que o tempo gentilmente cubra de bandaids meus arranhões. lá vou eu reincidir em preces para poetas, na falta de algum santo. enfim, me vou, se vai um pedacinho de mim. só não sei pra onde – mais um pequeno extravio de doçura ou esperança, peso morto que já não me cabe carregar.
Ela atinou. enfim deu-se conta do jogo perdido, de tudo acabado. viu chegar quarta-feira e quinta-feira e sexta e absolutamente nada aconteceu, o game over. como se todos os dias fossem quartas-feiras de cinzas.

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