terça-feira, 16 de março de 2010

fodam-se os rótulos




"quanta gente que ri,
talvez existe, cuja a ventura
única consiste em parecer
aos outros venturosa."


Sabe o rapaz de preto que anda meio de lado, aquele charmoso com barba por fazer? luxo? quem garante… eu modesto, belissimo, sempre sinteticamente alegre e muito sociável em baladas! divo? vai saber… pode ser tudo fuga, disfarce, simulação. se tudo o que devora o coração no rosto se estampasse…


Viver em grandes emoções súbitas sem sentido algum: é esse, não a solidão, o verdadeiro mal do século. raimundo corrêa, vinícius e wally “sailormoon” alertaram sobre os carnavais: sempre acabam na quarta-feira – tristeza não tem fim, felicidade sim.


O mal secreto já não é tão secreto assim. está mais para discreto, dependendo da personalidade do amaldiçoado. não há prozac, cachaça ou grande amor capaz de por um fim àquela velha angústia dos que vivem na eterna sombra da depressão. ao menos não definitivamente. li uma vez que aquela tristeza enorme é como uma bromélia, a bela planta parasita capaz de envolver uma árvore centenária e sugar todas as suas energias até torná-la madeira morta. desespero silencioso sem glamour algum.



A gente pensa que conhece as pessoas. teimamos em rotulá-las, em sistematizá-las, e construímos personalidades hipotéticas com base em roupa, cabelo, sorrisos ou maquiagem. ora, tudo isso é temporário, é momento, é fruto de esforço para parecer. na nudez e na solidão estão os verdadeiro eus. sob essas circunstâncias sobra o que há de verdadeiro – e o que ninguém vê. o pior: muitas vezes nem o próprio indivíduo consegue enxergar, porque um espelho mostrando olhos sujos vermelhos nada diz, e a bile negra, quando bate seu ponto invisível, o faz de modo silencioso. não há uma bromélia pra indicar de modo concreto que as coisas não vão bem.


O depressivo não necessariamente passa o dia todo de pijama jogado num sofá esperando o próprio fim. pode levar uma vida como você e eu, com a diferença de que não vê sentido algum nisso. se pararmos pra pensar, poderemos concluir que realmente não há sentido, mas acabamos por dar um jeito de conviver com esse fato. quando não se consegue lidar com a angústia da existência, quando as cores parecem todas iguais, quando a alegria só existe de maneira instantânea, quando a comida perde o sabor, o amor é indiferente e as noites são de um vazio aterrador é sinal que o peso está maior que o “normal”, e a persistência desses sintomas é sim motivo de alerta.


As coisas não precisam ser trágicas. o mundo não é cinza. se a agonia é maior que tudo, realmente a vida não vale a pena, mas não precisa ser assim. quando se está num beco aparentemente sem saída, há modos de construir um caminho, a way to vent our spleen. não é fácil, pode não ser de todo prazeroso, mas é uma possibilidade. tristeza pode ter fim e, aqui, esse fim justifica os meios – sem mitos nem preconceito.

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