segunda-feira, 22 de março de 2010

don't you stop loving me, daddy


Eu preferia ter sido levantado do chão pelas duas orelhas como quando menina. preferia ter levado tapas de havaianas número 44 na bunda até ficar marcada. juro.
Atravessou minha alma com o olhar e disse com toda a seriedade do mundo que eu não sou nada, que eu não existo, que estou me matando aos poucos. falou que faço tudo errado, que não tenho objetivos concretos e que meus dias são um desperdício. que eu sou um desperdício - de inteligência, de beleza, de dinheiro, de dedicação.
Pela primeira vez em todos esses anos vi aqueles olhos verdes claríssimos, emoldurados por uma pele muito bronzeada em contraste com cabelos brancos, marejados. pela primeira vez disse que pensa em mim todos os dias e que me ama, na terceira pessoa - o pai te ama, meu filho. e pela primeira vez senti que eu existo, que sou alguém - que sou o mundo de outro alguém.

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