quarta-feira, 10 de março de 2010

De mentirinha




Eu não entendo muito bem o porquê da necessidade das pessoas de mentir em seus relacionamentos. Não falo de coisas pequenas, de educação, de sutileza. Se você não agüenta mais ouvir aquele semi-conhecido chato que encontrou por acaso falar, vale dizer que tá atrasado pra um compromisso inventado pra se retirar sem ser indelicado. Se sua cunhada tem um gosto duvidoso pra se vestir, vale convencê-la em pleno verão de que ela vai passar frio com aquela mini-saia de paetês. Vale também tomar o suco de beterraba da sua avó com um sorriso no rosto e cumprimentar o filho da puta do seu ex-namorado. Tudo isso, mais que falsidade, é civilidade. Fora essa hipótese, nem adianta tentar me explicar, porque pra mim mentira, enganação e omissão deliberada são maneiras de passar por cima dos outros - o que não é nobre aqui nem na china.



Você odeia uma pessoa que faz parte do seu círculo social, por exemplo. Não há necessidade de agredi-la todas as vezes que vocês se encontram - você não é um ogro, afinal -, mas é o fim da picada você dar tapinhas nas costas dela, perguntar como vai a família e telefonar no aniversário pra dar parabéns. Qual o motivo pra isso? não sei, mas bom não pode ser. O tipo de pessoa que age assim, na minha humilde opinião, não é lá muito confiável. Vai saber com quem mais está sendo falsa...



Hipótese número dois, muito comum: casais inseparáveis onde, entretanto, reina a infidelidade. não falo de relacionamentos abertos, mas de relações apodrecidas pela deslealdade. Ela não sabe das gatinhas dele e/ou ele não sabe dos bofescândalos dela - a sujeira jaz inerte sob o tapete da desonestidade. Olhos não vêem, coração não sente, certo? é, até é verdade, mas no dia em que bater um ventinho, não é pouca a poeira que vai subir. E aí... Bom, aí não tem amor que sobreviva à ausência de respeito. Tentar consertar com mais mentira é consolidar a desonestidade como base do relacionamento e, se é assim, pra que continuar?



Temos, ainda, um terceiro caso, misto dos dois anteriores: o triângulo amoroso. O namorado engana a mulher com a ju [amiga safada sempre atende por ju, impressionante] ou o docinho do cara tem os costume secreto de matar aula na faculdade pra fazer "expedições" à cama do amigo do futebol daquele. Maravilha. Chega um dia em que o namorado ou o docinho decidem acabar com o triângulo pra se mudarem definitivamente para seus respectivos playgrounds. Cá pra nós, só sendo muito burros quaisquer dos envolvidos vai acreditar que um relacionamento desses vai ser diferente do anterior: Ora, se a pessoa agiu de forma, digamos assim, filhadaputinha com o namorado anterior, por que seria diferente com o atual? ou: se a pessoa não viu problema em se envolver com o namorado da amiga, por que respeitaria os amigos do novo namorado? ninguém é especial a ponto de mudar o caráter de outra pessoa.



As mentira que eu não entendo são, enfim, aquelas que funcionam como artifício para ocultar de alguém o comportamento de que se tem vergonha. Representam fugas das conseqüências das próprias escolhas. A mentira materializa a desonestidade do mentiroso em relação a alguém querido - claro, porque se fosse uma pessoa desimportante não haveria interesse em "poupá-lo" de qualquer informação.


Digam o que quiserem, mas gente que acha que os meios condenáveis justificam os nem sempre nobres fins de seu interesse eu não engulo - não dou tapinha nas costas, não pergunto da família e muito menos telefono pra das parabéns no dia do aniversário.

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