quarta-feira, 10 de março de 2010

Consolação sp, depois do espediente, 16:45hs

Hoje eu te vi parado numa esquina do calçadão com seus inseparáveis fones de ouvido e óculos escuros gigantes. Provavelmente esperava por alguém pra tomar um café ali por perto. fiquei do outro lado da rua durante uns dois minutos observando sua tristeza.você continua absolutamente igual desde toda a sua eternidade. esguio, queixo empinado, mão no bolso e escorado na parede com uma expressão grave. acendeu um cigarro, tragou lento e soltou sua fumaça ansiosa. mecheu no cabelo algumas vezes, ajeitou a camisa. mesmo claramente à espera de alguém, não olhava para os lados.voltei pra casa pensando nessa cena e tentando buscar na memória outras lembranças de você. me surpreendi ao não me recordar de muita coisa diferente do quadro que tinha visto minutos atrás: você calado e de cara amarrada, cabelos desalinhados, camisa surrada e fumaça de cigarro.me incomodou o fato de que tudo o que você representou tenha se resumido apenas a isso hoje - uma imagem previsível e sem muita graça. fiz um esforço pra desenterrar de algum vão em mim toda aquele encantamento que me fazia tremerem as pernas só de pensar em te ter perto de mim, mas não consegui identificar o porquê de toda aquela minha loucura.tentei, então, lembrar dos toques, das risadas que compartilhamos, de momentos felizes. aí, me deu o click: era dos seus cheiros que eu sentia falta [sim, o amor sempre tem cheiro].foi difícil me acostumar com a idéia de nunca mais dormir com você colado em mim com cheiro de cama. nunca mais acordar com a casa com cheiro de cigarro e café fresco. nunca mais domingo na lagoa e seu cabelo com cheiro de fritura. nunca mais seu cheiro de cansaço no final do dia. nunca mais o cheiro de incenso barato da sua casa. nunca mais o cheiro de álcool no seu hálito nas noites de dias-feiras. nunca mais minha casa com seu cheiro de banho. nunca mais o cheiro do seu edredom. nunca mais nossos cheiros parisienses fake misturados nas baladas. nunca mais seu cheiro no meu travesseiro. até do cheiro das suas roupas lavadas mensalmente sentia falta. mas o que mais doía era nunca mais aquele cheiro entre o seu ombro e o seu pescoço - fatal.agridoces, aqueles tempos: meus pensamentos mais bonitos vestidos de você, com suas cores, com seu ritmo e, principalmente, com seus cheiros. agora somos eu aqui e você aí-longe-não-sei-onde. melhor assim.

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