quarta-feira, 10 de março de 2010

Com açuca, com afeto.



- chico? é você?

- hãm... sim.

- cara... preciso te confessar uma coisa. sou apaixonada por você há mais de dez anos. juro. (suspiro profundo)

- (sorriso sem graça)

-casa comigo?- (gargalhada sem graça)

- tá... não precisa casar, mas me deixa ser sua arrumadeira, faxineira, cozinheira, objeto sexual...

É óbvio que a conversa acima nunca aconteceu, mas acho que se algum dia francisco buarque de hollanda cruzasse meu caminho, a tietagem seria algo nesse nível.

Admito que assédio desmedido de fã é cafona, mas, quando se trata do chico, consigo entender as miguxas que choram copiosamente ao encontrar um justin timberlake da vida - deve ser sobrenatural estar cara a cara com a pessoa que inspira um milhão de coisas bonitas todos os dias, e chico é o homem que embala meus pensamentos mais delicados. ouvi-lo me traz orgasmos poéticos - carícias plenas, obscenas aos ouvidos.

Mais que um músico talentoso, chico buarque é um grande poeta: constrói quebra-cabeças de palavras cuja beleza só pode ser apreendida por inteiro às custas de várias leituras e de muita sensibilidade. ele é o pai das metáforas mais bonitas (a saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu), brinca com homônimos como ninguém (éramos nós, estreitos nós ou vou cobrar com juros, juro), cria com precisão mulheres de atenas, de amsterdã ou do rio (lígia, cecília, ana, bárbara, carolina, a mulher que só diz sim). pra completar, o homem é bonito de doer. é ou não é digno de tietagem descarada, minha gente? até clarice lispector se rendeu aos seus encantos, descrevendo-o numa crônica (de 1968, se não me engano) como lindo, tímido e triste. eu não seria tão classuda, admito, ao manifestar minha admiração pelo homem dos olhos de neon - que com certeza me meteriam mais medo que um raio de sol ao cruzarem com os meus.

hoje a gente nem se fala, mas a festa continua. quem sabe um dia...

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