quarta-feira, 10 de março de 2010

Amaldiçoados

A gente reclama dos amores que nos deixaram. Agora imagine um amor que realmente se foi pra não mais voltar. Não falo de um amor antigo, mas atual; de um amor que irreversivelmente ficou no passado, levado pelos braços da morte. Nesse caso temos a real solidão, fim de quem ama. Sem volta, irremediável, sem sequer uma pequena-esperança pra amenizar a dor. Essa é a verdadeira maldição de qualquer amante.Quando jovens geralmente não tivemos ainda que lidar com o fim definitivo de uma pessoa próxima e, sendo assim, em qualquer circunstância que ele aconteça a dor é dilacerante. Não há aviso ou manual de instruções capaz de nos preparar par tal acontecimento trágico. É sempre de certa forma inesperado e, ao mesmo tempo, uma fatal certeza. Dói mais quando é súbito, sem explicação – e quando acontece com pessoas mais novas geralmente é assim.A morte de uma pessoa amada não significa o ocaso d0 amor. Para os familiares isso é evidente. Já para quem ama romanticamente essa pessoa, as coisas não são tão óbvias assim. Pelo contrário. Um acontecimente como esse mergulha qualquer mortal num mar de confusão. Pra onde seguir? o que sentir? que mensagem mandar para o coração? não há respostas. Há apenas um sentimento de vazio irreparável. A desorientação é a ordem, até que o tempo ou alguma outra coisa inexplicável aplaque a dor da perda. Sarar? acho que nunca. Sempre vai ficar uma cicatriz. Ainda que a vida siga, o pensamento volta e meia vagueia pelo que poderia ter sido.Situações como essas são a exceção ao nunca diga nunca, a menos que se tenha algum tipo de crença numa vida além desta. E aqui sente-se o peso esmagador dessa palavra: nunca. falam que a perda de um amor em vida dói mais. Discordo. Enquanto há vida há esperança. A morte é never, jamás, é it’s over. Barreira intransponível. É sentir na pele todos os dias ao acordar o que é perder alguém. Essa dor não desejo a meu pior inimigo. Planos inconcretizáveis são a materialização das limitações humanas. Aprender a viver – não sobreviver – com isso é superar os próprios limites. É tirar forças não sei de onde pra viver cada dia não sei como rumo a não sei quê. Enfim, é um pesar cheio de pesares. São pêsames a si próprio sem perspectiva real de alívio.Partir é o fim. Ficar é procurar um novo começo. É a busca outras motivações, porquês e para quês. É procurar algum querer que faça tudo valer à pena. É tentar transformar o mais absoluto não em possiblidades de sins. Força. Nessas horas essa é a palavra necessária a cada segundo. Talvez distrair a verdade para encontrar a tal força nalgum canto escondidinho da alma, porque tudo parece indicar que desistir é caminho menos penoso. Talvez seja, mas temos o ímpeto de pagar pra ver, de continuar, de arriscar tudo no amanhã – e isso move o mundo. Esperança apesar de todo o desespero. A busca de outra asa, ainda que de papelão. navegar é preciso, viver…Nessas horas penso em olhar para os lados, em procurar placas indicativas antes de qualquer envolvimento mais profundo. Mas via de regra não há placas. Amar é sempre um risco, um excesso. Caso encerrado por desamor? dos males o menor. O último fim, que pode não ser o fim para quem fica, esse raramente manda aviso. É de repente, não mais que de repente, e tende a se eternizar em quem o viveu.A palavra viúva vem de vidua, que quer dizer solitária, arrancada de seu estado natural, dividida. efim, metade, não inteira, e ser pedaço é desumano. Força e alma para os que enfrentam tamanha aflição.

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